À um amigo sumido pela falta ou sobra de tempo.

Enquanto o Negro esculpia a Luz
(Thiago Pinheiro)

Meu olhar de fino me trás de porta encontro de infinito
Sei abrir, mas sem supor o dentro não caberia da imaginação que sobre de cabeça vence.
Toco o chão como quem toca a matéria viva de que sou feito e de vez em quando:
Tanto!

Caibo em frente ao espelho se for para atravessá-lo.
Caibo em frente à luz se a puder esculpir.
Acabo sendo o tanto que venerei de futuro em mim,
Tendo um dia em sê-lo muita vida passada que pra ter fui tudo…

Tantas horas, tanto ter, tanto desejo me transformou,
Mas nunca em quando deixarei de ser Sou

 

Vale mais uma mentira viva ou uma verdade morta?

E o veto tá vetado mais que feto desacordado de cem nascidos um ainda sabe dizer bom dia mesmo em tempos de guerra, não que apague a dor, mas anuncia a esperança de delicadeza próxima, alvorada nova, lábio furtando a dor do ser, sangue atolado à vencer a falta do que ainda não permeia a veia dos aflitos, dos esquecidos, dos desencontrados, dos equivocados, de nós, familiares de si mesmos, amigos da mesma árvore genealógica dos primatas absurdos que começaram a fazer poesia, despois orgias, despois discursos e que, enfim, por criar sons menos simples e mais confundíveis aos ouvidos, palavras dúbias e sensações traiçoeiras, um dia se acharam mais importantes que os… escaravelhos.

— Que todos tenham um bom dia e possam escutar uma boa música, quando faltar cheiro na geladeira.

Lembrete (para um amanhã): inventar uma máquina que seja bonita, tenha cores variadas, tenha mais de dez utilidades no mínimo, converse em silêncio e que, além disso, produza oxigênio para si e para os outros.

— Nooossa!!! Eu poderia dar um nome só pra ela. Quem sabe Árvore. Taí! ÁR-VO-RE! Seria um bom nome, o que você acha tio Pedro?

Sem H!

Falas de um Anguatã
(Thiago Pinheiro)

Vamo que vamo na vertente do subgesto,
Contando prosa de verdade da fala de Anguatã:

Ladeira num tem vez com nóis,
Se descer vai virar reta.
Num dô istiga pra flecha
Que aqui me vá furar.
Sopro um coro de angola,
na subida da ladeira
Chupar cana e assoviar
Era o trabalho de mamãe,
Quando lá na minha infância
Ainda nisso lavava roupa.
De resto é essa alegria
Quem me veio tomar
De assalta a gaguejar.

De cego corto o carangueijo
Jogo fora o mal tremido
Lambo a foice de castigo,
Mas só o que me couber.
Quando chegar lá vou ver
O que me resta de pedaço,
Do horizonte não desfaço,
Pois é o que me faz andar.

Sigo o prumo do sereno,
Desviando da fome e da gripe,
Como quem vai de amanhã
Cantar no Coro de Deus.
Um beijo e abraço pros seus
Que estão de muito benzidos
Do céu aqui espero o bramido
Do oco da macambira
Pois não há medo ou ferida
Que não venha a se curar.

No amanhã ainda há de chegar
Seco solto suave sorte
Sem espaço para a Morte
Ela nem vai se tocar,
Que o povo já feliz
Não mais torcerá o nariz
Nem haverá tal raiz
De que o Mal se aproveitar.

É disso que eu tô falando
Doutra cousa ainda nesta.
É de festa, de badoque
De rock, de sertanejo.
Todo o povo dando o beijo
Nas palmas das mãos de Deus
O Deus que mora na lama
E que vagueia pelo céu
De graça vai jorrar mel
E de todo som mais um gracejo.

Vai virar mote ter sorriso,
Mas ninguém disso vai enjoar.
Vai ter arpejo em cada gesto
Com toda sua simplicidade.
Vai ter corrente só se for
Pra carregar um amuleto
Vai ter polícia e ladrão,
Mas só se dentro de brincadeira,
Vai ser de doce a tal cadeia,
Que nem a casa da bruxa de Maria e João.

Vai ser sucesso essa canção
E ela nem vai se existir,
Só a sensação de que vai vir
Que vai chegar esse momento,
Já me treme até o céu da boca,
Me dá vontade de gritar
Pra quem sorrir, pra quem chorar
Há de ser puro em cabimento
E amadureço o meu lamento
Até a hora de cantar:
Quem do véu vir se arrretirar
Vai ver mais firme o firmamento.

Vai, vai, vai vir e ainda virá
Como quem nunca se escondeu
Nem do seu crente, nem do ateu
Teve coberta o seu sorriso.
Vai ser de perto o Paraíso
Cócegas vão te emocionar,
A natureza vai carinhar
Seu belo sono quando dormir.
E na hora que tu acordar
Vai ter isso tudo na mira
Desde do melzinho à macambira
Desde o carinho ao firmamento
A ter ofertar e alumiar
A consciência, a emoção e o pensamento.
Dentro, dentro, dentro…